Sunday, April 22, 2007



HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS


Docente

José Esteves Pereira

Monitora


Isabel Ribeiro

19.04.07 Sessão nº 11

Sumário
Leitura e comentário de algumas páginas de O Príncipe, de Maquiavel

Apoio da Monitora Isabel Ribeiro

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MAQUIAVEL, O Príncipe


XVIII- Do modo que os príncipes devem cumprir a sua palavra.

Todos sabem quão louvável é um príncipe ser fiel à sua palavra e proceder com integridade e não com astúcia; contudo, não podemos deixar de ver pela experiência do nosso tempo aqueles príncipes que, fazendo grandes coisas, em pouca conta tiveram, as promessas feitas e que, com astúcia, souberam transtornar as cabeças dos homens; e por fim ultrapassar os que se fundaram na sua lealdade.
Deve saber-se que há dois modos de lutar: um com as leis, outro com a força: o primeiro é próprio dos homens, o segundo das bestas; mas, porque muitas vezes o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto é necessário a um príncipe que seja ao mesmo tempo homem e besta. Foi isto ensinado aos príncipes, encobertamente, pelos antigos escritores; os quais relatam como Aquiles e muitos outros príncipes antigos foram dados a educar a Quíron centauro


para que os guardasse sob a sua disciplina. Ora ter por preceptor alguém, meio besta, meio homem, outra coisa não quer dizer que um príncipe deve saber usar duma e doutra natureza e que uma sem a outra não é perdurável.
Achando-se, portanto, um príncipe na necessidade de saber utilizar a besta, de entre elas, deve escolher a raposa e o leão, porque nem o leão sabe defender-se das armadilhas, nem a raposa dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para espantar os lobos. Os que se ficam pelo leão não entendem nada. Não pode, nem deve, portanto, um prudente obedecer à palavra dada, quando o seu cumprimento se volte contra ele e quando já não existem as causas que o fizeram prometer. Não seria bom este preceito se todos os homens fossem bons; mas como são maus e em igual caso não cumpririam contigo, tu também não deves cumprir com eles. Nem nunca faltaram a um príncipe razões para disfarçar a sua falta à palavra. Disto se poderiam dar infinitos exemplos modernos e mostrar quantas pazes, quantas promessas, ficaram írritas e vãs pela falta de palavra dos príncipes; aquele que melhor soube proceder como a raposa, melhor se houve. Mas é necessário saber colorir bem esta natureza e ser grande simulador e dissimulador: os homens são tão simples e obedecem tanto às necessida­des presentes que quem engana achará sempre quem se deixe enganar.
Não quero calar, de entre exemplos recentes, um deles. Alexandre VI não fez outra coisa nem pensou noutra coisa que não fosse enganar os homens e sempre encontrou objecto para poder fazê-lo. Nem nunca existiu homem que afirmasse com maior eficácia ou assegurasse uma coisa com mais juramentos e que menos a observasse; contudo, os enganos sempre lhe saíram ad uotum(= como ele queria), porque conhecia bem esta faceta do género humano.
Contudo, não é necessário que um príncipe possua, de facto, todas as qualidades acima mencionadas, mas convém muito que aparente tê-las. Antes me atreverei a dizer que, tê-las e observá-las sempre, é prejudicial e aparentar tê-las é útil; parecer piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso, e assim por diante; embora tendo sempre o ânimo preparado para, no caso que em que se requeira não ser assim, se possa e saiba mudar em sentido contrário. Deve ter-se presente que um príncipe, e sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas pelas quais os homens têm fama de bons, tendo frequentemente necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião. Todavia é preciso que tenha o ânimo disposto a mudar segundo o que lhe mandem os ventos e as variações da fortuna e, como acima disse, não se separar do bem podendo fazê-lo, mas saber entrar no mal se for necessário. Deve portanto, um príncipe ter grande cuidado em que nunca lhe saia da boca uma só coisa que não esteja cheia das cinco qualidades atrás ditas e que, pareça ao verem-no e ao ouvirem-no todo piedade, todo fé, todo integridade, todo religião. E não há coisa mais necessária de aparentar que esta última qualidade. É que os homens julgam, universalmente, mais pelos olhos que pelas mãos, pois que a todos é dado ver, mas a poucos sentir. Todos vêem aquilo que tu pareces, poucos sabem quem tu és; e estes poucos não se atrevem a opor-se à opinião dos muitos que têm a majestade do Estado que os defenda ; e nas acções de todos os homens e principalmente nas dos príncipes, das quais não se pode recorrer, se atende ao fim. Faça, pois um príncipe por vencer e por manter o seu Estado que os meios serão sempre julgados honrosos e de todos louvados; porque o vulgo deixa-se sempre levar pela aparência e o sucesso das coisas; e no mundo não há senão vulgo e os poucos só têm lugar quando os muitos não tem em que apoiar-se. Há presentemente um príncipe* que não é bom nomear que só prega paz e boa fé e é inimicíssimo duma e doutra, e se fosse a observar uma e outra, muitas vezes lhe teria prejudicado a reputação ou o reino.

* Fernando, O Católico

http://genealogia.netopia.pt/pessoas/pes_show.php?id=2141

http://es.wikipedia.org/wiki/Reyes_Cat%C3%B3licos







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